DescoBERTA: a história de como um chatbot me ajudou a encontrar uma carreira
Primeiro, eu preciso dizer que: não, esse não é um case sobre uma inteligência artificial capaz de nos dizer qual a melhor decisão de carreira a ser tomada. Seria incrível se essa decisão não fosse tão difícil, porém um tanto irreal para com nossos sentimentos e trajetória.

Na verdade essa é a história sobre como participar de um projeto mudou completamente meus planos pro futuro e me fez descobrir um universo no qual eu nunca tinha pensado em trabalhar. Quero contar pra vocês como eu e Berta evoluímos juntas no período em que fiquei responsável pela curadoria do chatbot da BizCapital, o meu primeiro trabalho no mercado tech. Vamos lá?
Berta, esse é o nome do chatbot da BizCapital. O projeto de usar inteligência artificial para auxiliar o time de Relacionamento com o Cliente surgiu depois de um aumento de 330% no número de atendimentos diários no final de 2020. Inicialmente, Berta respondia apenas perguntas simples sobre como funcionavam os diferentes tipos de empréstimos oferecidos e quais eram os principais critérios de elegibilidade para crédito para pequenas empresas.

Em abril de 2021, dei início ao meu estágio na Biz, no time de relacionamento com o cliente. Comecei fazendo atendimentos, mas sempre tive vontade de fazer algo a mais. Isso aconteceu quando o colega de equipe responsável pela Berta tirou uns dias de férias. Ele perguntou quem toparia a missão de aprender os principais processos de follow-up e cuidar de tudo enquanto ele estava fora. Eu aceitei o desafio. Tivemos duas semanas para nos prepararmos e, no final, tudo deu certo!
Estabelecer objetivos específicos foi essencial para que eu pudesse compreender e alcançar tudo o que a nova tarefa exigia. Com a Berta, nós queríamos:
- Manter uma linguagem humanizada para que o cliente se sentisse acolhido;
- Deixar o atendimento humano focado nos casos mais complexos;
- Oferecer resoluções e respostas rápidas para nossos clientes.
A Berta utiliza a tecnologia de inteligência artificial do Watson, da IBM, em conjunto com a URA da plataforma Huggy. Mas quem é esse tal de Watson? E essa Huggy, né? Quais as diferenças entre uma IA e a URA? Eu explico!
💡A IBM desenvolveu o Watson como uma inteligência artificial que utiliza técnicas de processamento de linguagem natural e machine learning para entender e responder os humanos, e pode ser adaptado para atender às diferentes necessidades das empresas.
💡A Huggy é uma plataforma de atendimento que permite a integração de diferentes aplicativos e sistemas. Se diferencia do Watson, por não utilizar inteligência artificial, mas sim um assistente virtual (URA) que responde as perguntas conforme programamos.
Durante meus 10 meses no #TeamBerta, busquei novas habilidades para ajudar no desenvolvimento da inteligência artificial, participando de workshops sobre chatbots, Design Conversacional, UX Writing e métricas de Customer Sucess. Fui evoluindo em um processo que começou com o aprendizado da curadoria, passou pela análise qualitativa dos atendimentos e acabou resultando na capacidade de desenvolver intents, entities e dialogs por conta própria, criando um chatbot do zero.

Ao desempenhar a atividade de Curadoria, eu tinha como responsabilidade ler todos os atendimentos realizados pelo chatbot Berta e verificar se a interação tinha ocorrido sem problemas. Em caso de erros, eu os direcionava a um atendente humano para tratativa e registrava as necessidades de melhoria numa planilha. Com isso, foi possível identificar padrões de necessidades dos clientes e, em equipe, desenvolver novas funções para o chatbot. Aos poucos, a Berta assumiu funções mais complexas, como:
- Verificar o status dos pedidos de empréstimo;
- Fazer pedidos de empréstimo pelo WhatsApp;
- Enviar boletos;
Aos poucos, fui percebendo que era necessário sistematizar as ideias que vinham a partir da interação diária com o cliente, passei a fazer uma análise qualitativa em cima da base de dados. Uma vez na semana eu relia os atendimentos com notas baixas e buscava entender onde houve a falha, qual possível melhoria e quem seria responsável por realizá-la. Depois de implementar as mudanças, eu verificava se os mesmos erros ainda estavam acontecendo nas próximas semanas. Isso nos ajudou a melhorar constantemente a eficiência e eficácia da Berta.

Eu me tornei a principal responsável por corrigir as interações com o chatbot e, para isso, precisava fazer as alterações diretamente no Watson. Percebi que as palavras eram minhas principais ferramentas nessa tarefa. Passei a montar e desmontar frases, testando diferentes combinações e me atentando a como os clientes perguntavam para poder responder na mesma linguagem. Criei respostas simples para perguntas fáceis e mantive o tom de voz que nós, atendentes, usávamos.
Para comemorar os 100 mil atendimentos da Berta, decidimos finalmente tirar do papel uma ideia antiga: um chatbot de RH que ficaria conectado ao Slack para responder perguntas simples, como datas de feriados, licença maternidade e benefícios. Fui o responsável por desenvolver todas as mensagens e configurar o bot nos bastidores, enquanto meu colega de equipe cuidava da API. Aprendi que para o chatbot entender o que o cliente está pedindo, são necessárias três partes: a intent (que captura a intenção do usuário), as entities (que capturam valores específicos na interação do usuário) e o dialog (as possíveis respostas). Escrevi cada um desses comandos, cometi alguns erros ao longo do caminho, mas no final [para minha alegria] consegui fazer tudo funcionar.

Trabalhar com a Berta foi um marco na minha carreira. Foi graças a esse projeto que pude conhecer muitas áreas diferentes e acabei escolhendo UX como minha profissão, mudando para a área dentro da mesma empresa. Também foi ali que percebi o quanto eu gosto de aprender, e que sou capaz de superar desafios com a ajuda de pessoas incríveis dispostas a me ensinar. Além disso, percebi que minha empatia e habilidade em escutar as pessoas me permite sistematizar informações valiosas. Uma vez, minha gerente disse que eu fazia UX sem nem saber que estava fazendo, e agora depois de alguns anos de carreira, entendo exatamente o que ela estava dizendo.
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obs. esse texto foi escrito por mim em abril de 2023 quando terminou meu tempo de estágio na BizCapital e todas as informações privadas foram modificadas para proteger a empresa de acordo com a LGPD.
obs2. em Setembro de 2024 soube que a Berta foi desligada na plataforma de atendimento da empresa.